No meu ciclo de amizade, fazer aniversário não é uma coisa
legal (pelo menos não quando é você que é o aniversariante).
Em amizades normais de pessoas decentes, os aniversariantes
ganham presentes (uns bons, já outros nem tanto, mas o que vale é a intenção,
certo?). Em amizades normais de pessoas não tão decentes assim, o presente é
uma bela omelete que fazem contigo na saída da escola, e, dependendo do nível
da indecência, uma ocasional farinha ou terra na cara. Agora em amizades tipo
as que eu tenho, fazer aniversário é o pior carma que uma pessoa pode ter.
Sério.
Meus amigos são discípulos do Jackass — ou do satã mesmo.
Eles vão te perseguir com uma corda — ou o cabo do fio do
telefone (já que vale tudo!) — e te amarrar num poste em plena avenida. E nem
adianta correr ou tentar fugir, porque, acredite em mim, eles vão te alcançar e
vai ser mil vezes pior. Então só feche os olhos e comece a rezar. E, relaxa,
depois que tudo acabar, todo mundo vai embora... Aí é só tu arranjar uma alma
caridosa que te desamarre do poste. Ou esperar que as pessoas desconhecidas,
que filmaram tudo pra depois postar no YouTube, se compadeçam.
A galera já fez de tudo. Desde pintar os dentes com tinta
guache e deixar secar — a pessoa tem que ficar sorrindo pra tinta secar mais
rápido, senão, pior pra ela — até deixar os caras correndo quase pelados na
rua.
Em boa parte dessas maldades, eu estava presente. Não fazia
parte da turma que esquematizava os “presentes de Tróia”, mas também não era
daqueles que ficava só olhando. Eu era da parte da ação. Um dos carrascos,
propriamente falando. Por exemplo, não era eu que trazia a corda, mas era eu que ajudava a amarrar. Não
era eu que pegava os ovos mais podres do mercado da esquina, mas eu estava
entre aqueles que faziam questão que a cabeça do aniversariante ficasse fedendo
até o próximo aniversário.
Lógico que as pessoas ficavam putas pra caralho no dia —
quero dizer, no mês, ou, sei lá,
alguns pra vida toda —, mas a maioria sabia levar na esportiva. Afinal, essa
zoeira é uma espécie de roleta-russa. Tu pode dar sorte e passar despercebido
algumas vezes, mas uma hora a bala vai vir bem na tua testa. Como diz o ditado:
um dia é da caça, o outro é do caçador.
Sempre fui o caçador. Daqui a uns dias, vou virar caça.
Todo mundo se juntou e se virou contra mim. Meus excelentes
e estimados amigos (só que ao contrário) fizeram uma arrecadação de dinheiro —
a popular vaquinha — para comprar uma passagem só de ida para o inferno e me
presentearam com ela. A brisa é que eles vão me deixar escolher como eu quero ir.
Vai ser o melhor “presente de Tróia” de todos os tempos
(depois, é claro, do cavalo de Tróia) — segundo as mentes do mal.
Pro meu azar, o meu presente não envolve nenhum poste da
vergonha ou tinta guache nos dentes. Eles sabem que eu tiro essas coisas de
letra, não iriam me deixar me safar tão fácil assim. Eles querem me ver sofrer.
Querem que eu pague. Vão me chutar onde mais dói, bem no mindinho!
Os desgraçados sabem quais são os meus pontos fracos. E, com
as mentes sádicas que têm, vão fazer o que todo tirano faria: Vão me deixar escolher o meu presente.
Olha só que perfeito:
O meu presente número um é uma visita ao cabeleireiro — que
está mais para açougue. Não me deram muitos detalhes da engenhoca, mas, pelo
pouco que fui informado, parte da frente do meu cabelo ficaria de um loiro Xuxa
feat. Água de Danone. Uma coisa escrota. Não quis nem imaginar. Já na parte de
trás da minha cabeça, eles mandariam passar a 1 e fazer um desenho que eu
também não fui informado do que seria. Porém, não precisa ser um gênio pra
saber que não era coisa que preste.
Já o meu presente número dois é mais simples. Só que não.
Depende do ponto de vista. Se alargar a tua orelha a ponto de você poder enfiar
o teu dedo no buraco, for uma coisa mais simples pra ti, então o meu presente
dois é o mais sussa.
Como não há jeito de escapar, fui pedir ajuda para alguns
amigos (mais decentes) sobre o que escolher. Todos eles disseram que o 1 é mais
zoado.
“Porque, Gabs, imagina só você chegando segunda na escola
com o cabelo na frente branco e rosa desbotado e atrás careca... Iriam te zoar
muito!”
Mas, por incrível que pareça, o 1 é o que eu mais estava
tentado a escolher. Sério. Não que eu tenha gostado desse corte escroto. Muito
pelo contrário. Sei que vai parecer meio coisa de viado, mas eu odeio cortar o meu cabelo. Desde criança
eu tenho esse trauma. Da última vez que eu cortei, tiveram que passar a tesoura
enquanto eu dormia. Tô falando sério. E mesmo com a escrotisse de descolorir e
tudo, o 1 ainda parece o mais digno pra mim.
Tudo porque eu acho a coisa mais retardada do mundo arrombar
a orelha. Acho que eu passei tempo de mais ouvindo minha avó reclamar do
Restart quando eu fui passar as férias na casa dela uns quatro anos atrás. Ou
sei lá.
“Você não vai inventar de ficar que nem esses meninos do ‘restarteee’ não, né, Gabriel? Olha,
gente, que coisa esquisita... Será que
esse menino não tem mãe e nem pai? Como é que deixam ele sair assim? Olha esse
buraco na orelha! Olha essa calça!”.
Parece que eu tô ouvindo ela falar...
Provavelmente vai me deserdar depois que me ver com esse
brinco na orelha. Sim, acabei ficando
com o 2. Por livre e espontânea pressão. Minha mãe disse que iria passar a zero
se me visse com o cabelo descolorido (e olha que ela nem ouviu a parte do rosa
desbotado e do desenho atrás).
“Deus me livre de ter um Neymar em casa!”
“Mãe, o Neymar não tem mais cabelo assim, agora é o Daniel
Alves.”
“Tanto faz.”
É, pra minha mãe tudo é tanto faz, parece que ela faz
cosplay do Naldo.
E aqui estou eu com um brinco maldito na orelha. Um brinco,
cara! Tipo, deve ser normal pra ti, porque esses lances de homem furar a orelha
já é normal pra molecada hoje em dia. Porém, a minha família é mais das
antigas. Meus tios vão me zoar até a morte! Já imagino até a piada:
“Já escolhi teu presente de Natal, Biel, vai ser um
brinquinho da Avon!”
Sério. Eu vou sofrer um bullying que tu não tem ideia;
Agora eu tenho que esperar até domingo pra por o alargador.
Olha que viadagem. Da vontade de cortar minha orelha fora.
Eu ando tendo umas semanas de cão, por isso não tô postando
aqui com frequência. Semana de cão mesmo.
E, se tu acha que eu tô exagerando, dá só uma olhada na minha semana
maravilhosa:
01-04 - Prova de Sociologia
01-04 - Trabalho de espanhol (diálogo)
01-04 - Prova de espanhol (verbos)
01/04 - 02/04- Apresentação do Ultrarromantismo
02-04 - Prova de Química
02-04 - Trabalho de Gestão de Competências
03-04 - Prova de Inglês
04-04 - Prova oral de ADM Jurídica
05-04 - Relatório sobre a Lógica Aristotélica (manuscrito)
05-04 - Prova de ADM da Produção
05-04 - Prova de POC II
01-04 - Trabalho de espanhol (diálogo)
01-04 - Prova de espanhol (verbos)
01/04 - 02/04- Apresentação do Ultrarromantismo
02-04 - Prova de Química
02-04 - Trabalho de Gestão de Competências
03-04 - Prova de Inglês
04-04 - Prova oral de ADM Jurídica
05-04 - Relatório sobre a Lógica Aristotélica (manuscrito)
05-04 - Prova de ADM da Produção
05-04 - Prova de POC II
08-04 - Gestão Ambiental
09-04 – Apresentação de Gestão de Competências (em slides)
12-04 - Prova de Filosofia
12-06 - Seminário de ADM de Materiais
12-04 - Prova de Filosofia
12-06 - Seminário de ADM de Materiais
Só de olhar já me dá preguiça. Fora que eu tô há um mês
tentando ler um livro que a minha professora de Literatura passou e não passei
da primeira página. Por que os livros que a escola obriga a gente ler são tão
chatos? É tanta palavra difícil que parece que o cara fez parceria com o
Aurélio. O nome é A queda de um anjo (do
Camilo Castelo Branco). Pelo que eu entendi, depois que o prazo de ler o livro
terminar (que é tipo quinta-feira, ou seja, eu tô ferrado), a gente vai ter que
fazer um debate sobre o mesmo.
Um debate!
Cara, eu nem sei
direito o nome do personagem!
Tem uma galera desesperada na minha sala, mas eu tô de boa no caos, lendo Morte Súbita (que eu peguei na
biblioteca antes que a cambada, que jura que ainda vai receber uma carta de
Hogwarts, mesmo que eles não tenham mais onze anos e que Hogwarts não exista
[sim, gosto de acabar com infâncias], o visse) — o que deve ser uma afronta
para com a minha professora de Literatura, já que esse livro deve ter o quádruplo
de páginas d’A queda de um anjo.
Enfim, vou na onda de todo estudante que se preze e apelar
pro Wikipédia.
E, na hora do debate, eu vou falar um monte de merda e, no
fim, soltar uma frase de impacto (daquelas mais profundas que um abismo, que
todo mundo finge que entende pra pagar de Cult e os caralho) e esperar que a
minha professora ao menos acredite que eu li o livro.
Aham, e enganar a nossa queria e estimada professora, que é
doutorada em pedagogia, formada em crítica literária, corretora do Enem (que dá
1000 pontos pra quem escreve trouxe com dois s), e os outros mimimis do
currículo espetacular dela, que insiste em nos relembrar sempre, é muito fácil.
Senta lá, Claudia.
Mas a gente fica aqui
nas malandragens. Só que não.
Olá Gabriel!
ResponderExcluirFaz um tempo do caramba que eu não comento em nada... Acho que peguei essa onda de ter ficado alguns meses sem computador e nem me liguei mais que coisas como Nyah e blogs existem... Foi mal cara, mas vi esse post na minha página do blogger e de repente eu senti uma certa curiosidade co essa foto...
Amigos "legais" esses em? Poxa, me prometeram até que jogariam ovos em mim pra no dia esquecerem que era meu aniversário. Enfim, pra que colegas de escola quando se tem três amigos completamente normais? Ganhei doces de aniversário e agradeço por não ter sido uma ovada na testa. Mas essa parada do alargador é foda, digo, é meio estranho... Não me acostumo quando vejo os caras andando com um buraco na orelha então se eu fosse você teria escolhido o lance do cabelo. Cabelo cresce de novo...
HAHA já vi de tudo (nem tanto assim né) mas amarrar o cara no poste, ahh essa é novidade! Aqui só se ganha um banho (literalmente!) de ovo, terra e café, mas eu nasci no dia primeiro de abril então só fazem bilhões de piadinhas nojentas...
Poxa cara, que semana!!! Desejo sorte aí pra você, e tente se livrar ainda do alargador...
'Té mais!
p.s.: bom, eu e minha colega de classe planejávamos criar um blog de textos há muito tempo e depois de tentativas falhas eu resolvi criar um decente ontem a noite. Não é muito bom e ainda só tem um post mas... contosdasfalhas.blogspot.com
que daóra, vou dar uma bisolhada por lá, podexa! Hahahaha
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