segunda-feira, 8 de abril de 2013

Alargador, viadagens da vida, livros e amigos da onça.



No meu ciclo de amizade, fazer aniversário não é uma coisa legal (pelo menos não quando é você que é o aniversariante).
Em amizades normais de pessoas decentes, os aniversariantes ganham presentes (uns bons, já outros nem tanto, mas o que vale é a intenção, certo?). Em amizades normais de pessoas não tão decentes assim, o presente é uma bela omelete que fazem contigo na saída da escola, e, dependendo do nível da indecência, uma ocasional farinha ou terra na cara. Agora em amizades tipo as que eu tenho, fazer aniversário é o pior carma que uma pessoa pode ter. Sério.
Meus amigos são discípulos do Jackass — ou do satã mesmo.
Eles vão te perseguir com uma corda — ou o cabo do fio do telefone (já que vale tudo!) — e te amarrar num poste em plena avenida. E nem adianta correr ou tentar fugir, porque, acredite em mim, eles vão te alcançar e vai ser mil vezes pior. Então só feche os olhos e comece a rezar. E, relaxa, depois que tudo acabar, todo mundo vai embora... Aí é só tu arranjar uma alma caridosa que te desamarre do poste. Ou esperar que as pessoas desconhecidas, que filmaram tudo pra depois postar no YouTube, se compadeçam.
A galera já fez de tudo. Desde pintar os dentes com tinta guache e deixar secar — a pessoa tem que ficar sorrindo pra tinta secar mais rápido, senão, pior pra ela — até deixar os caras correndo quase pelados na rua.
Em boa parte dessas maldades, eu estava presente. Não fazia parte da turma que esquematizava os “presentes de Tróia”, mas também não era daqueles que ficava só olhando. Eu era da parte da ação. Um dos carrascos, propriamente falando. Por exemplo, não era eu que trazia a corda, mas era eu que ajudava a amarrar. Não era eu que pegava os ovos mais podres do mercado da esquina, mas eu estava entre aqueles que faziam questão que a cabeça do aniversariante ficasse fedendo até o próximo aniversário.
Lógico que as pessoas ficavam putas pra caralho no dia — quero dizer, no mês, ou, sei lá, alguns pra vida toda —, mas a maioria sabia levar na esportiva. Afinal, essa zoeira é uma espécie de roleta-russa. Tu pode dar sorte e passar despercebido algumas vezes, mas uma hora a bala vai vir bem na tua testa. Como diz o ditado: um dia é da caça, o outro é do caçador.
Sempre fui o caçador. Daqui a uns dias, vou virar caça.
Todo mundo se juntou e se virou contra mim. Meus excelentes e estimados amigos (só que ao contrário) fizeram uma arrecadação de dinheiro — a popular vaquinha — para comprar uma passagem só de ida para o inferno e me presentearam com ela. A brisa é que eles vão me deixar escolher como eu quero ir.
Vai ser o melhor “presente de Tróia” de todos os tempos (depois, é claro, do cavalo de Tróia) — segundo as mentes do mal.
Pro meu azar, o meu presente não envolve nenhum poste da vergonha ou tinta guache nos dentes. Eles sabem que eu tiro essas coisas de letra, não iriam me deixar me safar tão fácil assim. Eles querem me ver sofrer. Querem que eu pague. Vão me chutar onde mais dói, bem no mindinho!
Os desgraçados sabem quais são os meus pontos fracos. E, com as mentes sádicas que têm, vão fazer o que todo tirano faria: Vão me deixar escolher o meu presente.
Olha só que perfeito:
O meu presente número um é uma visita ao cabeleireiro — que está mais para açougue. Não me deram muitos detalhes da engenhoca, mas, pelo pouco que fui informado, parte da frente do meu cabelo ficaria de um loiro Xuxa feat. Água de Danone. Uma coisa escrota. Não quis nem imaginar. Já na parte de trás da minha cabeça, eles mandariam passar a 1 e fazer um desenho que eu também não fui informado do que seria. Porém, não precisa ser um gênio pra saber que não era coisa que preste.
Já o meu presente número dois é mais simples. Só que não. Depende do ponto de vista. Se alargar a tua orelha a ponto de você poder enfiar o teu dedo no buraco, for uma coisa mais simples pra ti, então o meu presente dois é o mais sussa.
Como não há jeito de escapar, fui pedir ajuda para alguns amigos (mais decentes) sobre o que escolher. Todos eles disseram que o 1 é mais zoado.
“Porque, Gabs, imagina só você chegando segunda na escola com o cabelo na frente branco e rosa desbotado e atrás careca... Iriam te zoar muito!”
Mas, por incrível que pareça, o 1 é o que eu mais estava tentado a escolher. Sério. Não que eu tenha gostado desse corte escroto. Muito pelo contrário. Sei que vai parecer meio coisa de viado, mas eu odeio cortar o meu cabelo. Desde criança eu tenho esse trauma. Da última vez que eu cortei, tiveram que passar a tesoura enquanto eu dormia. Tô falando sério. E mesmo com a escrotisse de descolorir e tudo, o 1 ainda parece o mais digno pra mim.
Tudo porque eu acho a coisa mais retardada do mundo arrombar a orelha. Acho que eu passei tempo de mais ouvindo minha avó reclamar do Restart quando eu fui passar as férias na casa dela uns quatro anos atrás. Ou sei lá.
“Você não vai inventar de ficar que nem esses meninos do ‘restarteee’ não, né, Gabriel? Olha, gente, que coisa esquisita...  Será que esse menino não tem mãe e nem pai? Como é que deixam ele sair assim? Olha esse buraco na orelha! Olha essa calça!”.
Parece que eu tô ouvindo ela falar...
Provavelmente vai me deserdar depois que me ver com esse brinco na orelha.  Sim, acabei ficando com o 2. Por livre e espontânea pressão. Minha mãe disse que iria passar a zero se me visse com o cabelo descolorido (e olha que ela nem ouviu a parte do rosa desbotado e do desenho atrás).
“Deus me livre de ter um Neymar em casa!”
“Mãe, o Neymar não tem mais cabelo assim, agora é o Daniel Alves.”
“Tanto faz.”
É, pra minha mãe tudo é tanto faz, parece que ela faz cosplay do Naldo.
E aqui estou eu com um brinco maldito na orelha. Um brinco, cara! Tipo, deve ser normal pra ti, porque esses lances de homem furar a orelha já é normal pra molecada hoje em dia. Porém, a minha família é mais das antigas. Meus tios vão me zoar até a morte! Já imagino até a piada:
“Já escolhi teu presente de Natal, Biel, vai ser um brinquinho da Avon!”
Sério. Eu vou sofrer um bullying que tu não tem ideia;
Agora eu tenho que esperar até domingo pra por o alargador. Olha que viadagem. Da vontade de cortar minha orelha fora.
Eu ando tendo umas semanas de cão, por isso não tô postando aqui com frequência. Semana de cão mesmo.  E, se tu acha que eu tô exagerando, dá só uma olhada na minha semana maravilhosa:
01-04 - Prova de Sociologia
01-04 - Trabalho de espanhol (diálogo)
01-04 - Prova de espanhol (verbos)
01/04 - 02/04- Apresentação do Ultrarromantismo
02-04 - Prova de Química
02-04 - Trabalho de Gestão de Competências
03-04 - Prova de Inglês
04-04 - Prova oral de ADM Jurídica
05-04 - Relatório sobre a Lógica Aristotélica (manuscrito)
05-04 - Prova de ADM da Produção
05-04 - Prova de POC II
08-04 - Gestão Ambiental
09-04 – Apresentação de Gestão de Competências (em slides)
12-04 - Prova de Filosofia
12-06 - Seminário de ADM de Materiais

Só de olhar já me dá preguiça. Fora que eu tô há um mês tentando ler um livro que a minha professora de Literatura passou e não passei da primeira página. Por que os livros que a escola obriga a gente ler são tão chatos? É tanta palavra difícil que parece que o cara fez parceria com o Aurélio.  O nome é A queda de um anjo (do Camilo Castelo Branco). Pelo que eu entendi, depois que o prazo de ler o livro terminar (que é tipo quinta-feira, ou seja, eu tô ferrado), a gente vai ter que fazer um debate sobre o mesmo.
Um debate!
 Cara, eu nem sei direito o nome do personagem!
Tem uma galera desesperada na minha sala, mas eu tô de boa no caos, lendo Morte Súbita (que eu peguei na biblioteca antes que a cambada, que jura que ainda vai receber uma carta de Hogwarts, mesmo que eles não tenham mais onze anos e que Hogwarts não exista [sim, gosto de acabar com infâncias], o visse) — o que deve ser uma afronta para com a minha professora de Literatura, já que esse livro deve ter o quádruplo de páginas d’A queda de um anjo.
Enfim, vou na onda de todo estudante que se preze e apelar pro Wikipédia.
E, na hora do debate, eu vou falar um monte de merda e, no fim, soltar uma frase de impacto (daquelas mais profundas que um abismo, que todo mundo finge que entende pra pagar de Cult e os caralho) e esperar que a minha professora ao menos acredite que eu li o livro.
Aham, e enganar a nossa queria e estimada professora, que é doutorada em pedagogia, formada em crítica literária, corretora do Enem (que dá 1000 pontos pra quem escreve trouxe com dois s), e os outros mimimis do currículo espetacular dela, que insiste em nos relembrar sempre, é muito fácil. Senta lá, Claudia.
 Mas a gente fica aqui nas malandragens. Só que não.



2 comentários:

  1. Olá Gabriel!
    Faz um tempo do caramba que eu não comento em nada... Acho que peguei essa onda de ter ficado alguns meses sem computador e nem me liguei mais que coisas como Nyah e blogs existem... Foi mal cara, mas vi esse post na minha página do blogger e de repente eu senti uma certa curiosidade co essa foto...
    Amigos "legais" esses em? Poxa, me prometeram até que jogariam ovos em mim pra no dia esquecerem que era meu aniversário. Enfim, pra que colegas de escola quando se tem três amigos completamente normais? Ganhei doces de aniversário e agradeço por não ter sido uma ovada na testa. Mas essa parada do alargador é foda, digo, é meio estranho... Não me acostumo quando vejo os caras andando com um buraco na orelha então se eu fosse você teria escolhido o lance do cabelo. Cabelo cresce de novo...
    HAHA já vi de tudo (nem tanto assim né) mas amarrar o cara no poste, ahh essa é novidade! Aqui só se ganha um banho (literalmente!) de ovo, terra e café, mas eu nasci no dia primeiro de abril então só fazem bilhões de piadinhas nojentas...
    Poxa cara, que semana!!! Desejo sorte aí pra você, e tente se livrar ainda do alargador...
    'Té mais!
    p.s.: bom, eu e minha colega de classe planejávamos criar um blog de textos há muito tempo e depois de tentativas falhas eu resolvi criar um decente ontem a noite. Não é muito bom e ainda só tem um post mas... contosdasfalhas.blogspot.com

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    1. que daóra, vou dar uma bisolhada por lá, podexa! Hahahaha

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