O nome do livro da Meg Cabot que eu falo nesse post é A garota americana. Vol 2. |
Eu tive um ano de puro sufoco. Chegou a minha vez de enfrentar um velho esquema de todo estudante na adolescência: Ensino médio! É, aquela fase doidona que a gente assistia na Malhação quando era criança e não via a hora de estar lá também (seja para se sentir mais adulto ou só pela esperança de ter um monte de mina bonita igual na novela).
Meu primeiro ano de bixo (ou calouro) chegou mais rápido do
que eu imaginava (sei lá, tenho a impressão que depois da sétima série o
relógio passou a correr mais rápido) e lá estava eu numa escola nova, com uma galera
que eu nunca vi na vida e um professor mais maluco (e exigente!) que o outro.
Fora o trote a caminho.
O que o pessoal dos terceiros e dos segundos anos tem contra
nós pobres almas novatas? Sei lá. Mas
ano que vem a galera do primeiro ano vai pagar pelo meu trote. Acho que isso
vai ser um ciclo-vicioso e a cada ano os bixos vão sofrer mais e mais. Mas eu
não tenho mais nada a ver com isso. Já fui pintado com tinta guache dos pés a
cabeça e quase fui amarrado num poste; chegou a minha vez de me vingar! Mwahaha
Maldade? Talvez. Mas está aí a graça do ensino médio!
Enlouquecer, perder o juízo, se ferrar... Aí então a gente pode criar
responsabilidade e ficar velho e resmungão!
Por falar em coisas velhas, eu fiz essa introdução toda só
pra falar nisso.
Meu ano foi corrido pra caramba: prova atrás de prova,
trabalhos, apresentações, TCM (trabalho de conclusão de módulo — nunca ouviu
falar? Você não sabe o quanto é sortudo, cara!) e lição de casa acumulada pra
mil anos. Mas nas últimas semanas de aula deu pra dar uma relaxada e, já que eu
não tinha nada pra escrever, fui dar uma visitinha na biblioteca da minha
escola.
Não curto muito bibliotecas. Sei lá. Acho um lance muito
forçado. Dizem que lá é um local de leitura e estudos, mas a maioria gosta de
ir lá só pra bater papo e usar os computadores (que também são para estudos)
para entrar no Facebook. Enfim, estudar mesmo que é bom: NADA. O legal é que no
fim do ano a gente vê essa galerinha se ferrar pra estudar pras provas de
recuperação e pro vestibular (ah, a vingança dos bixos!) e a biblioteca fica
vazia.
Então eu fui lá dar uma conferida. Não encontrei muita
coisa. A escola parece estar metade preocupada com a área técnica (encontrei
uns 100 livros de contabilidade só numa estante) e a outra metade preocupada em
alimentar esse “fanatismo” que alguns alunos (mais especificamente, alunas) andam tendo com seres
sobrenaturais. Era “vem chupar meu sangue e brilhar no sol” num corredor contra
“vamos descobrir um mundo mágico” no outro. Sobrava pouco espaço pros meios
termos.
É claro que tinha os clássicos também. Mas ninguém quer
perder algumas horas com o que o pobre do Saramago tem a nos contar. E quem vai
ler Romeu e Julieta se a Meg Cabot está na prateleira ao lado?
Falando nela, essa mulher me deixou muito intrigado. Já dei
uma olhada em alguns livros dela (e, antes que você venha com cinco pedras na
mão, eu explico: a minha namorada lê!) e jurava que ela era uma dessas autoras
que encontraram a fórmula secreta pra vender livro para adolescentes hoje em dia
e que nunca mais vão joga-la fora: guria normal — ás vezes sofrendo uma sutil
alteração para rebelde ou patricinha — + cara rico/bonito (porque os dois tem
que vir junto) + alguns conflitos adolescentes idiotas, tipo, “minha arqui inimiga
loira na escola” + baile + final feliz. Fim.
Porém, eu me deparei com um livro da Meg que me fez parar e
perder uns minutos dando uma folheada. E eu sigo a regra que, se eu perco mais
de cinco minutos lendo a sinopse na capa do livro e ainda dou uma olhada na
primeira folha, é porque a coisa ficou séria e eu vou ter que levá-lo para
casa.
Alguém inventou que você só pode levar para casa no máximo
quatro livros por vez. Eu tinha Anjos e Demônios (que eu precisava ler desde que assisti O código Da Vinci), O garoto que
não era de Liverpool (porque fui convencido que se tem Beatles no meio deve ter
algo de bom), Água para elefantes (já que a minha namorada leu e viu o filme e
achou tudo maravilhoso, então eu queria ler só para depois criticar e ficar
arrumando defeitos porque fiquei com a impressão que esse maravilhoso dela não tem nada a ver com o filme ou com o livro, e
sim, com o ator principal) e um do Stephen King (porque o cara é um gênio).
Meg me obrigou a sacrificar um dos quatro.
E eu até agora me envergonho em dizer que foi o King.
O bibliotecário curtiu os livros que eu ia levar, mas não
conseguiu deixar de zoar por causa da Meg. Disfarcei falando que era pra
namorada, e como ele é meu parceiro de conversa fiada na hora do almoço sobre
futebol, deixou essa passar.
Cheguei em casa, dei uma última olhada no meu caderno de Física
para a prova do dia seguinte (como se eu fosse entender alguma coisa do dia pra
noite), e comecei a analisar os livros.
Aqui a regra dos 5 minutos também vale. O livro que me
fisgar por mais de cinco minutos sem que eu o abandone e passe a olhar o
próximo é o que eu começo a ler.
Meg me fisgou.
Não que o livro fosse algo extraordinário ou porque a
história fosse eletrizante. Nada disso. Muito pelo contrário. Não fiquei intrigado
com a história em si, e sim, com a própria Meg.
Pelo que eu sabia (e como disse aqui antes) a Meg Cabot
tinha uma linha de desenvolvimento de histórias muito parecidas. Sem grandes
surpresas; clichê em cima de clichê. Resultado? As garotas adoram, se
identificam (mesmo que na vida delas não tenha nenhum baile ou garoto bonito “impossível”
que elas sejam apaixonadas) e compram.
E Meg permanece rica e pronta para lançar mais um “novo” romance clichê.
Mas lá estava eu de cara com o livro mais, hum, digamos
ousado da Meg.
À primeira vista, um livro comum, que você acha que é igual
aos outros dela. Mas depois de ler e reler a sinopse você começa a notar que
tem algo de estranho no livro. Uma ousadia que não é comum nesse tipo de literatura-para-garotas-iludidas.
Resumindo a ópera. Meg (sim, aquela autora americana que
contribui para que cada vez mais e mais garotas sejam iludidas que tudo é
bonitinho e vai dar certo no final e que aquele cara — de jeito nenhum — vai
quebrar seu coração) escreveu um livro sobre uma guria que está desesperada
para perder a virgindade com o namorado.
É.
Isso me deixou profundamente intrigado. “Como ela fez isso? Cara,
a Meg Cabot?”. Fiquei muito curioso para saber como ela abordaria esse assunto,
já que seus livros anteriores (pelo menos os que eu vi) eram tão... “Conto de
fadas para garotas que não são mais crianças”, vamos dizer assim.
Não vou ficar aqui resumindo o livro (porque isso é chato
e se você quiser saber que leia), mas acho importante ressaltar algumas coisas.
Meg, ás vezes, não conseguia abandonar o clichê romântico e enchia o livro de
mimimi, mas havia momentos que eu tenho certeza que, se uma mãe mais
conservadora de alguma menina pegasse o livro para dar uma olhada teria um treco.
Meg usou, abusou e ousou. Achei comédia o namorado da
protagonista (que era muito gay, em minha opinião). Achei a protagonista uma
medrosa. Depois uma guria de atitude. Ri. Odiei o mimimi. Me achei ridículo por
estar lendo um livro de garotas. Mas curti. E o incrível: não me arrependo de
ter lido. Meg me mostrou uma faceta interessante de sua escrita.
O livro foi e é
muito criticado, por causa do conteúdo, hum, pornográfico cor de rosa. Principalmente
porque quem escreve é a Meg Cabot,
que pelo que eu já falei aqui, já dá pra entender que o negócio foi beeem
diferente do que ela estava acostumada a escrever.
E eu curti. Não o livro exatamente. Curti a ousadia da Meg e
até comecei a entender porque ela faz tanto sucesso. Cabot conseguiu fazer com
que milhares de garotas se identificassem com suas personagens (o que
convenhamos que uma vez acertado, ela nunca mais erra, já que elas são todas
iguais), mesmo que aqui no Brasil a vida da maioria das meninas ande bem longe
do cotidiano americano.
E isso é muito importante para um autor: fazer com que seu
público alvo (no caso da Meg, gurias iludidas as garotas) veja um pouco
da sua vida refletida no livro, como se ela fosse amiga e conhecesse cada uma
delas. Tem muitos autores alienados querendo usar uma linguagem distante do
público alvo. Avacalhando legal. Você
escreve para garotas iludidas românticas? Ok, abuse dos finais felizes.
Não faça como muitas vezes vi por aí em que a personagem principal tem 15 anos
e fala como uma mulher de 30 anos, divorciada que o marido trocou pela
secretária.
Converse com o seu leitor e faça-o entender (mesmo que não
viva ou conheça) a vida dos seus personagens — minha mãe, por exemplo, estava
lendo Jogos Vorazes esses dias. Aproxime o leitor do livro. Isso deixa a leitura
mais gostosa, mais leve, sei lá, mais interessante.
Não vou te recomendar o livro, porque falando a verdade, eu
não li ele todo. Pulei várias partes por causa do mimimi e se eu fosse fazer
uma resenha sobre o mesmo não falaria nada que preste. Mas se você quiser ler,
fique a vontade. Se não quiser, tudo bem também, e espere meu post sobre o
Stephen King.
Estou te amando agora. Porque você leu Meg Cabot. E assumiu que foi legal e não ficou com aquele papinho manjado de "livro de menininha é ruim porque sim". Enfins. Você tem meu respeito.
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