segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Uma história que não está na Wikipédia (mas que deveria!)


           Vou “reinaugurar” o blog falando de um cara. Um cara que não é famoso, então você muito provavelmente nunca ouviu falar dele. Ele não tem uma página na Wikipédia, mas eu acho que deveria. Porque eu considero a história da vida dele uma das melhores que eu já ouvi falar. Então, lá vai:

            Esse cara nasceu em Espírito Santo, mas se considera paulista porque se mudou para São Paulo antes de aprender a soletrar E-S-P-Í-R-I-T-O S-A-N-T-O. O pai desse cara era neto de um judeu e a mãe dele cuidava da casa, ele nunca teve nenhum bicho de estimação e cresceu ouvindo músicas dos anos 60 — mesmo que o pai dele fosse fã de música clássica.


                Quando tinha sete anos, esse cara foi obrigado a aprender a tocar piano. Ele largou as aulas um ano depois e fez um acordo com o pai: trocaria o piano por um teclado (o que andava longe de ser a mesma coisa — e ao mesmo tempo parecia a mesma coisa. Pra ele. Enfim, fato é que os dois instrumentos tinham teclas. O pai desse cara fingiu que fazia sentido). Ele não curtiu também as aulas de teclado, porém não desistiu. Não porque queria agradar o pai e, sim, porque era teimoso e não queria ser vencido por um monte de teclas (como até hoje ele se refere ao instrumento piano/teclado).




                Aliás, esse cara de quem eu estou falando odiava perder. Adorava discutir. E amava provar que estava certo.


                Aos doze anos, ele quase foi expulso do colégio em que estudava. Motivo: disse que o professor deveria se sentar no lugar dele e tentar aprender alguma coisa com os alunos, não o contrário. Virou lenda para os colegas de turma. Não foi expulso por isso. Só foi convidado a se retirar. O que anda longe de ser a mesma coisa — e ao mesmo tempo parecia a mesma coisa. Pra todo mundo. O pai desse cara disse que estava muito decepcionado com o filho (o que era, sim, verdade, mas ele também estava orgulhoso, só que não disse essa última parte a ninguém).


                O cara foi transferido para uma escola militar. E ele, para a surpresa de todos, adorava estudar lá. E o que era para ser punição, segundo o mesmo, virou uma das melhores experiências da vida dele. Foi ali que ele descobriu o que queria fazer da vida. Mas vamos deixar pra falar dessa parte mais para frente.



               
                O problema é que na escola militar que esse cara estudava não tinha Ensino Médio (que, naquela época, era chamado de segundo grau). E, como ele não queria entrar para o exército — e cortar o cabelo e morar no Haiti e nunca ir pra guerra —, também não fazia sentido ele se mudar para outra escola militar. Sendo assim, ele teve que ir para outro colégio... Até hoje ele não sabe se foi a melhor ou a pior coisa que ele fez da vida dele.


                Era um colégio tradicional da zona sul, mensalidade caríssima, pessoas intragáveis. Foi lá que esse cara teve a primeira namorada, foi lá que ele paquerou uma professora, foi numa festa de lá que ele fumou o primeiro baseado, pegou a namorada do melhor amigo, entrou numa briga, se esqueceu de voltar pra casa no dia seguinte. Foi lá também que ele viu o quanto o mundo era realmente uma merda e que ele estaria fodido se não fizesse nada pra mudar. Bom, o mundo não mudou, já adianto, mas ele tentou.


                Formou uma banda de rock alternativo com outros quatro caras e batizou-a de Subterrâneo (na época eles achavam que era um nome legal). O baixista da banda era péssimo, mas a namorada dele fazia um boquete daóra, então tava tudo certo. Eles tocavam nas festas que só quem não era esnobe ia. O salário era um saquinho de maconha. De vez em quando colava uma grana de verdade. De vez em quando alguma patricinha metida a Cult (sim, já existia naquela época) dava pra todo mundo da banda.




                Na real, a banda desse cara era péssima. Eles faziam alguns covers dos Beatles e emendavam com algumas músicas do Sex Pistols. A mistura era terrível, mas ninguém estava ligando muito. O cara deduziu que era porque todo mundo estava chapado demais para reclamar — inclusive ele.


                Dormia em todas as aulas do colégio, mas não ia mal em nenhuma matéria. Foi assim até o terceiro ano. E até aquela altura do campeonato ele não sabia se a vida dele era uma merda ou se era boa de verdade. Também não havia conseguido mudar o mundo.


                Numa noite, a Subterrâneo (a banda desse cara) estava tocando na casa de um cara esquisito que todo mundo conhecia. O nome dele era Guilherme, mas todo mundo chamava ele de Vitor e ninguém sabia o porque disso. Então, estavam todos lá na casa do Vitor, uns meio bêbados e a maioria já chapada, e esse cara resolveu inovar e começar a tocar uma música que ele tinha escutado na rádio no dia anterior. Chamava Faroeste Caboclo e ninguém sabia cantar direito.


                Era da Legião Urbana e o vocalista fazia uma péssima imitação da voz do Renato Russo. Lá pela quarta estrofe, ninguém ligava mais pra música. Nem a banda. O vocalista abandonou o microfone pra beber e o baixista estava muito ocupado tentando ver onde a namorada dele tinha se enfiado — ou enfiado a boca. O guitarrista tava mais pra lá do que pra cá, e o baterista não sabia o ritmo da canção direito. Então só dava pra ouvir direito o som do teclado e, como já foi dito, ninguém estava prestando atenção.


                Mas esse cara continuou mesmo assim. E, quando acabou, ele emendou outra da Legião. E mais outra. E, quando viu, já tinha tocado a fita inteira (sim, fita!) que tinha em casa. Levantou a cabeça na última música. Era Eduardo e Monica e essa todo mundo sabia cantar. Mas poucos estavam acordados para entender a melodia então a letra não fazia sentido nenhum. Uns estavam na parte em que o Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar, outros na parte em que o filhinho do Eduardo ficou de recuperação.


                E o cara novamente não ligou e continuou tocando. Quando estava na metade da canção, levantou a cabeça e percebeu uma loirinha no canto, que ele nunca tinha visto. Era a única que estava no tempo certo da música. Ela olhou pra ele, e ele olhou pra ela, e o Eduardo tinha passado no vestibular.


                Foi falar com ela um tempo depois, mas ela nem deu bola pra ele. Era do segundo ano, falava pouco, não sabia beber e era fã de Legião Urbana. Não foi amor à primeira vista. O cara ficou com outra garota naquela noite, levou essa garota pra casa (dele) e esqueceu da loirinha da festa. Ela não esqueceu dele, acho, considerando os próximos acontecimentos.


                Houve mais festas e em nenhuma delas o cara percebeu a loirinha olhando pra ele. Notou-a uma vez no colégio, enquanto ela conversava com as amigas, de saiazinha toda comportada. O cara achava que ela era metidinha, mas ficou interessado.


                Chamou pra sair. Ela disse que não. Mais tarde ela contou a ele o motivo: soube por uma amiga de uma amiga de outra amiga dela que ele, o cara, tinha saído com uma garota da sala dela e que ele tinha sido um idiota. Uma história meio assim. No fim, a loirinha acabou saindo com ele. E saiu mais uma vez. E outra. E o pai dela não gostou. O avô dela (um velho muito bravo), muito menos.


                Esse cara de quem eu estou falando tinha uma péssima reputação. Além de fumar maconha, ter uma “bandinha de drogados”, dormir nas aulas e brincar com as filhas alheias, ele ainda vinha de família judia. Na verdade, a última pessoa seguir a religião na família dele foi o bisavô e esse já tinha batido as botas há tempos. Só que o avô da loirinha pouco se importava com esse detalhe.


                Eles tiveram que namorar escondido. E tava tudo muito bem, muito bom. O cara estava se formando e ele já sabia o que queria fazer da vida: Direito. Que ironia, né? Direito... Tudo o que ele não era. Muito pelo contrário: era todo errado. Fazia tudo errado. Vivia em pé de guerra com a loirinha (porque ele amava discutir e ela era osso duro de roer), ficou uns tempos sem falar com o pai e também parou de ir as aulas.


                Mas estava tudo indo bem, por incrível que pareça. A vida aparentava ser boa. Muito boa. E ele estava aproveitando os últimos dias de adolescente problemático. No ano seguinte, ele iria embora pra outra cidade, moraria numa república com um monte de gente estranha, fumaria mais maconha, abriria mais livros. A vida seria boa.
              Só que então ele levou uma sacudida da vida. E ela disse pra ele: “Acorda, que o mundo não cabe na palma da tua mão!”. Os tempos de escola já tinham terminado e esse cara conseguiu passar no vestibular. Primeira chamada da Federal. O pai, pela primeira vez, mostrou o quando era orgulhoso dele. Voltaram a se falar. E ele foi pra republica de gente esquisita, fumar maconha e abrir livros.


                Mas voltou meses depois pra ficar com a loirinha que ele tinha deixado grávida chorando no aeroporto. Ê, vida! Teve que casar com ela, era o jeito. Porque o avô da loirinha era italiano e, lá na terra dele foi ensinado que, quando você engravida a filha dos outros, você tem que casar com ela. E também porque o pai desse cara sempre disse pra ele que um homem de verdade assume suas responsabilidades. E, nesses dois pontos, tanto a família judia quanto a italiana concordavam.


                Casaram. O cara pediu transferência de universidade e não foi para a república de gente esquisita, fumar maconha e abrir livros. Foi abrir uma conta no banco, trabalhar, estudar e ser pai.


                A vida era uma montanha-russa naquela época. A loirinha chorava todo dia porque ela era menina de família e estava grávida no ensino médio num colégio de gente esnobe. O cara fazia tudo o que podia, mas ele ainda não tinha descoberto nenhum superpoder, apesar de nas propagandas dizerem que todo pai é um super-herói.




                Mas ele iria ser pai e tinha só dezenove — quase vinte. E tinha que trabalhar, estudar, por comida na mesa e pagar as parcelas do apartamento. O cara pirou. Pirou de verdade. Ele e a loirinha começaram a brigar pra valer (porque ele adorava discutir e iria ser advogado; e ela era osso duro de roer e estava grávida). Tudo virou um caos. Tinha dias que eles nem se falavam.


                Foi nessa época que eu conheci os dois. E eu era todo problemático e dei um monte de trabalho, mas eles gostaram de mim. Sei lá por que. Eles até voltaram a se falar por minha causa e um dia o cara virou pra mim e disse:


— Acho que eu posso segurar, sim, o mundo na palma da minha mão, tô te segurando, rapaz!


                E eu não entendi nada naquela época, mas eu ri mesmo assim e pedi pra ele trocar de canal porque eu queria assistir desenho. E ele cantava Beatles pra mim toda noite e me disse pra ter cuidado com a filha dos outros.


                Um dia esse cara começou a falar sobre como ele me achava um cara legal e o quanto ele gostava de mim por isso. Disse que sempre iria querer ficar perto de mim e que, se eu precisasse de alguma coisa, era só chamar que ele viria. E que eu sempre poderia ligar para ele, a qualquer hora, pra brigar, pra conversar ou pra perguntar sobre algum CD.


                Eu também não entendi nada na época. Tinha três anos e tudo parecia brincadeirinha. Mas naquele dia não foi de brincadeirinha. O cara saiu para trabalhar, como sempre ia, e a noite eu fiquei esperando para assistir desenho come ele, como sempre ficava.


                Perguntei pra Laís (a mulher que cuidava de mim na época) se ele iria demorar muito pra chegar. Ela disse que não. Estava mentindo. Ele demorou pra voltar e, na verdade, não voltou. E a minha mãe me dizia que iria ficar tudo bem, mas eu não queria que nada ficasse bem, só queria que meu pai voltasse pra casa. Não tinha graça pegar o controle e mudar pro canal de desenhos na hora do jogo do Brasil, se ele não estivesse lá para reclamar. Não tinha graça ouvir Beatles. Nada tinha graça.


                E eu não entendia muita coisa. Não entendia porque tinha que ir aos fins de semana ficar com o meu pai no novo apartamento dele se nós já tínhamos um apartamento e a minha mãe estava lá. Não fazia sentido. Nunca fez.


                Mas eu cresci e entendi algumas coisas. E dei muito trabalho no processo. Mas o cara cumpriu a promessa: ele sempre está lá do outro lado da linha quando preciso. E às vezes ele enche o saco quando se mete demais na minha vida. Mas eu sei que ele só faz isso porque quer que eu siga por um caminho melhor do que o dele — um com menos dificuldades e tudo mais, acho.


                E ele uma vez me disse que nunca se arrependeu de ter voltado para casa e ter sido meu pai. Disse que eu fui uma das melhores pessoas que ele conheceu. Eu e os Beatles.




                No fim da história, o cara se casou com uma morena bonita do trabalho dele. O nome dela é Mari. Ela não leva jeito com crianças, não sabe lavar roupa ou cozinhar, mas é uma boa pessoa. É feminista e também adora discutir, mas ela e esse cara se dão bem.


                A Mari nunca quis ter filhos, mas ela não tem nada contra os enteados. Ela não gosta de criança, então nunca me tratou como criança, nem quando eu era uma criança. Meu pai também nunca fez isso. Eles têm um jeito de educar meio estranho, mas deu certo, acho.


                Se eu quisesse ficar acordado até tarde, sem problemas. Mas eu tinha que levantar junto com eles no dia seguinte e ajudar a Mari a não gastar todo o sabão de uma vez na máquina (porque ela nunca sabe quando a medida está boa) e fazer meus deveres da escola. Tudo era assim. Resumindo, eu poderia fazer tudo o que uma criança queria, mas tinha que assumir a responsabilidade depois — como um adulto. Dureza. Virava um anjo nos fins de semana. Minha mãe não entendia nada.


                E às vezes eu fico pensando em como as coisas seriam se esse cara nunca tivesse levantado a cabeça e visto a loirinha no canto. Será que ele teria ido pra Federal, virado poeta e mudado o mundo? Ou será que, de um jeito ou de outro, ele seria exatamente o que é hoje?


                E a loirinha? Será que ela teria se apaixonado por outro cara que tocasse Legião Urbana? Será que ela não precisaria provar tantas coisas pra um monte de gente tão nova?


                Não sei, cara. Talvez isso acontecesse, talvez não. Mas a história desse cara é essa. Tá certo que eu deixei de fora um monte de coisas, mas a essência é essa daí . Quero desejar pra ele um feliz aniversário e dizer que eu tenho muito orgulho de ser filho dele. E que eu estou feliz por ele ter voltado e ter sido meu pai.





sábado, 4 de maio de 2013

Juízo de mais.




Bom, eu não sei exatamente como devo começar isso. Não sei se há um melhor jeito de comunicar o que tenho a dizer do que assim, mas esse foi o melhor que encontrei. O melhor que eu posso fazer.
Não sei por onde começar. Uma grande observação que tenho a fazer é que sempre começo as minhas histórias pelo meio ou pelo fim. Nunca pelo começo.
O começo me desintegra, me deixa perdido, sem eira nem beira, não consigo saber que rumo devo tomar. Sou um escritor defeituoso. Crio personagens repletos de defeitos. Situações inusitadas misturadas com coisas que acontecem todos os dias. Uma realidade fantasiada de utopia. E, como qualquer mortal que tenha o poder supremo em suas mãos, crio vidas e as destruo. Sim, eu gosto de brincar de Deus. Eu começo pelo fim.
E aqui estou eu: no fim.
Se você procurar, saberá que hoje — dia 04/05/2013 — eu excluí todas as minhas histórias. Saberá que meus personagens — defeituosos ou não — chegaram ao fim. Que eu cheguei ao fim.
Todavia, não pretendo apelar para a dramaticidade. Nada disso. Assim como escritor, sou um roteirista defeituoso. Mudo as engrenagens do script de minuto a minuto. Faço de um drama uma comédia. De uma aventura um musical. Tudo que posso dizer aos meus telespectadores é que sinto muito e que o dinheiro não será devolvido.
 E, aos meus leitores, deixo aqui a minha saudade antecipada já expressa em palavras. Deixo meu carinho por todos aqueles que me deixaram guiá-los por esse conjunto de palavras confusas que escrevi durante esse um ano e meio, seja como escritor, amigo ou apenas um cara aí. Vocês são incríveis.
Caso estejam se perguntando o motivo deste repentino final, digo apenas que os bastidores nem sempre refletem o espetáculo. Há muito mais entre a performance do ator e a maquiagem no camarim. Há muito mais entre as palavras de um escritor e os pensamentos que a criaram.
Os telespectadores têm a arte final — porém houve muita lapidação para ela chegar a esse ponto nos bastidores. Mas não, não estou me arrependendo do trabalho árduo. Aquelas horas que passei aqui escrevendo foram maravilhosas. Conhecer vocês foi maravilhoso. Posso dizer com absoluta certeza que nunca fiz algo tão gratificante em toda a minha vida.
Porém, chega uma hora que o ator cansa, a maquiagem se vai e o escritor não tem mais sobre o quê escrever. Eu sinto muito.
Não posso me esquecer de dizer também um adeus especial àqueles leitores que viraram amigos, confidentes e até mesmo aconselhadores. Que, além de lerem estas palavras confusas, ainda quiseram conhecer a mente mais confusa ainda por trás delas.
Pra vocês, não digo sinto muito — porque, na verdade, vocês não conheciam só as minhas histórias, conheciam também o cara que as escreve e, como eu não morri, não é uma “perda” tão grande, certo? Bom, eu sei que é confuso, mas só peço que tentem me entendam.
Tem dramas da vida que a gente não consegue simplesmente por um fim no próximo capítulo. Tem coisas que não se pode adiar para sempre.
Sei lá, talvez eu tenha criado juízo. Sim, o juízo de menos. Irônico, eu diria.
Vocês que me acompanham desde o começo, devem saber que a minha vida não é a mesma de um ano atrás. Não levo mais a vida de garoto cego apaixonado, ainda bem (ou não). Não passo mais as tardes em cima de quatro rodinhas e um shape quebrando as costelas por aí.
Tenho tantas coisas para fazer agora que estou a ponto de ficar maluco. Sério. Talvez eu me arrependa no futuro de ter posto um fim definitivo nisso aqui. Mas o agora, infelizmente, pede isso.
E é isso.
Muito obrigado por me acompanhar nessa longa jornada e por ter lido os meus devaneios. Vocês são tão incríveis que me faltam palavras — me falta enredo.
Antes de acabar isso aqui, preciso dizer algumas palavras a uma pessoa muito especial. Me sentiria péssimo se não o fizesse. Gi — minha stalker favorita —, é uma pena que a sua carreira tenha que acabar. Valeu pelas horas no MSN, pelos reviews enormes e pelos conselhos que não podiam ter sido melhores — certo, eu acho que eu não segui nenhum, mas tu sabe que eu não tenho jeito, né.
E é aqui que eu coloco ponto final. Valeu, galera, espero que demore muito pra vocês criarem juízo nessas cabeçinhas. Quem sabe, um dia a gente não se tromba por aí em qualquer prateleira, hein. Não dizem que “nunca se sabe o dia de amanhã”?
 Pois é.
“Sei lá, de repente, eu acordei e percebi que eu tinha crescido. Maluco, não é?”
— GS

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Alargador, viadagens da vida, livros e amigos da onça.



No meu ciclo de amizade, fazer aniversário não é uma coisa legal (pelo menos não quando é você que é o aniversariante).
Em amizades normais de pessoas decentes, os aniversariantes ganham presentes (uns bons, já outros nem tanto, mas o que vale é a intenção, certo?). Em amizades normais de pessoas não tão decentes assim, o presente é uma bela omelete que fazem contigo na saída da escola, e, dependendo do nível da indecência, uma ocasional farinha ou terra na cara. Agora em amizades tipo as que eu tenho, fazer aniversário é o pior carma que uma pessoa pode ter. Sério.
Meus amigos são discípulos do Jackass — ou do satã mesmo.
Eles vão te perseguir com uma corda — ou o cabo do fio do telefone (já que vale tudo!) — e te amarrar num poste em plena avenida. E nem adianta correr ou tentar fugir, porque, acredite em mim, eles vão te alcançar e vai ser mil vezes pior. Então só feche os olhos e comece a rezar. E, relaxa, depois que tudo acabar, todo mundo vai embora... Aí é só tu arranjar uma alma caridosa que te desamarre do poste. Ou esperar que as pessoas desconhecidas, que filmaram tudo pra depois postar no YouTube, se compadeçam.
A galera já fez de tudo. Desde pintar os dentes com tinta guache e deixar secar — a pessoa tem que ficar sorrindo pra tinta secar mais rápido, senão, pior pra ela — até deixar os caras correndo quase pelados na rua.
Em boa parte dessas maldades, eu estava presente. Não fazia parte da turma que esquematizava os “presentes de Tróia”, mas também não era daqueles que ficava só olhando. Eu era da parte da ação. Um dos carrascos, propriamente falando. Por exemplo, não era eu que trazia a corda, mas era eu que ajudava a amarrar. Não era eu que pegava os ovos mais podres do mercado da esquina, mas eu estava entre aqueles que faziam questão que a cabeça do aniversariante ficasse fedendo até o próximo aniversário.
Lógico que as pessoas ficavam putas pra caralho no dia — quero dizer, no mês, ou, sei lá, alguns pra vida toda —, mas a maioria sabia levar na esportiva. Afinal, essa zoeira é uma espécie de roleta-russa. Tu pode dar sorte e passar despercebido algumas vezes, mas uma hora a bala vai vir bem na tua testa. Como diz o ditado: um dia é da caça, o outro é do caçador.
Sempre fui o caçador. Daqui a uns dias, vou virar caça.
Todo mundo se juntou e se virou contra mim. Meus excelentes e estimados amigos (só que ao contrário) fizeram uma arrecadação de dinheiro — a popular vaquinha — para comprar uma passagem só de ida para o inferno e me presentearam com ela. A brisa é que eles vão me deixar escolher como eu quero ir.
Vai ser o melhor “presente de Tróia” de todos os tempos (depois, é claro, do cavalo de Tróia) — segundo as mentes do mal.
Pro meu azar, o meu presente não envolve nenhum poste da vergonha ou tinta guache nos dentes. Eles sabem que eu tiro essas coisas de letra, não iriam me deixar me safar tão fácil assim. Eles querem me ver sofrer. Querem que eu pague. Vão me chutar onde mais dói, bem no mindinho!
Os desgraçados sabem quais são os meus pontos fracos. E, com as mentes sádicas que têm, vão fazer o que todo tirano faria: Vão me deixar escolher o meu presente.
Olha só que perfeito:
O meu presente número um é uma visita ao cabeleireiro — que está mais para açougue. Não me deram muitos detalhes da engenhoca, mas, pelo pouco que fui informado, parte da frente do meu cabelo ficaria de um loiro Xuxa feat. Água de Danone. Uma coisa escrota. Não quis nem imaginar. Já na parte de trás da minha cabeça, eles mandariam passar a 1 e fazer um desenho que eu também não fui informado do que seria. Porém, não precisa ser um gênio pra saber que não era coisa que preste.
Já o meu presente número dois é mais simples. Só que não. Depende do ponto de vista. Se alargar a tua orelha a ponto de você poder enfiar o teu dedo no buraco, for uma coisa mais simples pra ti, então o meu presente dois é o mais sussa.
Como não há jeito de escapar, fui pedir ajuda para alguns amigos (mais decentes) sobre o que escolher. Todos eles disseram que o 1 é mais zoado.
“Porque, Gabs, imagina só você chegando segunda na escola com o cabelo na frente branco e rosa desbotado e atrás careca... Iriam te zoar muito!”
Mas, por incrível que pareça, o 1 é o que eu mais estava tentado a escolher. Sério. Não que eu tenha gostado desse corte escroto. Muito pelo contrário. Sei que vai parecer meio coisa de viado, mas eu odeio cortar o meu cabelo. Desde criança eu tenho esse trauma. Da última vez que eu cortei, tiveram que passar a tesoura enquanto eu dormia. Tô falando sério. E mesmo com a escrotisse de descolorir e tudo, o 1 ainda parece o mais digno pra mim.
Tudo porque eu acho a coisa mais retardada do mundo arrombar a orelha. Acho que eu passei tempo de mais ouvindo minha avó reclamar do Restart quando eu fui passar as férias na casa dela uns quatro anos atrás. Ou sei lá.
“Você não vai inventar de ficar que nem esses meninos do ‘restarteee’ não, né, Gabriel? Olha, gente, que coisa esquisita...  Será que esse menino não tem mãe e nem pai? Como é que deixam ele sair assim? Olha esse buraco na orelha! Olha essa calça!”.
Parece que eu tô ouvindo ela falar...
Provavelmente vai me deserdar depois que me ver com esse brinco na orelha.  Sim, acabei ficando com o 2. Por livre e espontânea pressão. Minha mãe disse que iria passar a zero se me visse com o cabelo descolorido (e olha que ela nem ouviu a parte do rosa desbotado e do desenho atrás).
“Deus me livre de ter um Neymar em casa!”
“Mãe, o Neymar não tem mais cabelo assim, agora é o Daniel Alves.”
“Tanto faz.”
É, pra minha mãe tudo é tanto faz, parece que ela faz cosplay do Naldo.
E aqui estou eu com um brinco maldito na orelha. Um brinco, cara! Tipo, deve ser normal pra ti, porque esses lances de homem furar a orelha já é normal pra molecada hoje em dia. Porém, a minha família é mais das antigas. Meus tios vão me zoar até a morte! Já imagino até a piada:
“Já escolhi teu presente de Natal, Biel, vai ser um brinquinho da Avon!”
Sério. Eu vou sofrer um bullying que tu não tem ideia;
Agora eu tenho que esperar até domingo pra por o alargador. Olha que viadagem. Da vontade de cortar minha orelha fora.
Eu ando tendo umas semanas de cão, por isso não tô postando aqui com frequência. Semana de cão mesmo.  E, se tu acha que eu tô exagerando, dá só uma olhada na minha semana maravilhosa:
01-04 - Prova de Sociologia
01-04 - Trabalho de espanhol (diálogo)
01-04 - Prova de espanhol (verbos)
01/04 - 02/04- Apresentação do Ultrarromantismo
02-04 - Prova de Química
02-04 - Trabalho de Gestão de Competências
03-04 - Prova de Inglês
04-04 - Prova oral de ADM Jurídica
05-04 - Relatório sobre a Lógica Aristotélica (manuscrito)
05-04 - Prova de ADM da Produção
05-04 - Prova de POC II
08-04 - Gestão Ambiental
09-04 – Apresentação de Gestão de Competências (em slides)
12-04 - Prova de Filosofia
12-06 - Seminário de ADM de Materiais

Só de olhar já me dá preguiça. Fora que eu tô há um mês tentando ler um livro que a minha professora de Literatura passou e não passei da primeira página. Por que os livros que a escola obriga a gente ler são tão chatos? É tanta palavra difícil que parece que o cara fez parceria com o Aurélio.  O nome é A queda de um anjo (do Camilo Castelo Branco). Pelo que eu entendi, depois que o prazo de ler o livro terminar (que é tipo quinta-feira, ou seja, eu tô ferrado), a gente vai ter que fazer um debate sobre o mesmo.
Um debate!
 Cara, eu nem sei direito o nome do personagem!
Tem uma galera desesperada na minha sala, mas eu tô de boa no caos, lendo Morte Súbita (que eu peguei na biblioteca antes que a cambada, que jura que ainda vai receber uma carta de Hogwarts, mesmo que eles não tenham mais onze anos e que Hogwarts não exista [sim, gosto de acabar com infâncias], o visse) — o que deve ser uma afronta para com a minha professora de Literatura, já que esse livro deve ter o quádruplo de páginas d’A queda de um anjo.
Enfim, vou na onda de todo estudante que se preze e apelar pro Wikipédia.
E, na hora do debate, eu vou falar um monte de merda e, no fim, soltar uma frase de impacto (daquelas mais profundas que um abismo, que todo mundo finge que entende pra pagar de Cult e os caralho) e esperar que a minha professora ao menos acredite que eu li o livro.
Aham, e enganar a nossa queria e estimada professora, que é doutorada em pedagogia, formada em crítica literária, corretora do Enem (que dá 1000 pontos pra quem escreve trouxe com dois s), e os outros mimimis do currículo espetacular dela, que insiste em nos relembrar sempre, é muito fácil. Senta lá, Claudia.
 Mas a gente fica aqui nas malandragens. Só que não.



segunda-feira, 18 de março de 2013

Garota de Domingo.



Ela é como uma manhã de Domingo. Sorriso fácil, voz doce, olhar tímido, enfim... Talvez seja por isso que ela não foi feita pra mim. Mas, eu bebo saudade a semana inteira, só pra vê-la chegar... Ao soar de: Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça. É ela menina, que vem e que passa. Queria eu ter o dom de saber esperar. Ê, Vinícius. Sua garota de Ipanema passava todo dia... A minha só passa aos 45 do segundo tempo.  Só passa quando eu lembro que amanhã é segunda. Sim, essa mesma segunda que, nem tão por acaso, rima com vagabunda.
Ela me atiça, fascina e depois vai embora. Sorri, me enlouquece e a gente se namora. No dia seguinte, nem bom dia recebo mais. Terça não tem importância. Na quarta ela me liga — meu time perdendo —, pergunta se eu vou lá. Quinta é só silêncio. Sexta ela me esquece. Sábado é de preguiça. Domingo, chuva ou Sol, a gente se aquece.  
Se tivesse mais um dia na semana, talvez déssemos certo. Eu disse só talvez. Na nossa rotina, trocamos as certezas por cerveja. Pra começar a falar sério, só se inventassem um novo mês.
E o nosso mês cabe num Domingo.
O tempo parado, o filme mais brega do mundo rodando sem ninguém assistir, ressaca pré-segunda feira, gostinho de saudade, cheiro de reencontro, olhar de quero mais. Faz cara de santa, me atenta como o Diabo e ainda tem a audácia de perguntar: “Quer mais pipoca?”.
Ah, eu quero muitas coisas. Ela sabe disso. Porque Domingo eu sou quase dela; e vice-versa. Nos outros dias, a gente se perde por aí. Fazer o quê? 
Nos outros dias, somos solteiros mas Domingo eu só quero você.

Hoje ela está aqui, amanhã não está mais. De sete em sete, eu vou me embebedando de azar. Mas eu não desisto, meu caro Vinícius, só pra ver ela passar...

"Aaah, só pra ver ela passar."
 — GS

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Carnaval, alfinetadas e um pouco de Strokes



Eu acho Carnaval uma coisa meio bizarra. Sei lá. O ano inteiro só tem mulher pelada na TV lá pelas três da manhã — e olhe lá porque aquilo ‘tá mais pra nu artístico: canal culinário chega a ser mais excitante. E, aí, chega fevereiro e tudo muda!
Tem gente mostrando o que é e o que não é pra se mostrar em tudo que é canal, e aquela coisa bonita, todo mundo alegre, camarote da BRAHMA, desfile, rainha de bateria e os caralhos que a Globo faz cobertura. E ninguém ‘tá nem aí! Mas quando tem uma cena mais quente na novela, vem um monte de tia ofendida querendo processar, e, se pá, até o Papa reclama.
Agora, quando é Carnaval, PODE!
A criançada lá assistindo desenho e, do nada, aparece a Globeleza sambando com os peitos balançando de lá pra cá no comercial. Ê, Brasil! Quem precisa de canal educativo nessas horas, hein?
É tanta escrotisse que chega até a ser engraçado.E o daóra é que, quando o Carnaval acaba, eu posso sair falando isso pra todo mundo que ninguém vai achar ruim. Agora vai eu falar isso quando todo mundo ‘tá caindo na folia que vem geral com quatro pedras na mão falando que eu não respeito à cultura do Brasil. E não é isso. Eu respeito sim e até entendo que as pessoas tem direito de curtir o que elas quiserem, mas não sou obrigado a concordar com tudo. Sou?
Lá na China eles comem cachorro (é da cultura deles), se eu for pra lá vou ter que comer também? Não, né! Então eu acho que também tenho o direito de não achar o Carnaval o ponto alto do ano. Mas não estou necessariamente reclamando. Como dizem por aí, feriado dado não se olha os dentes — ou alguma coisa assim.
E, já que estamos nesse clima de falar mal do que já passou, acho que é uma boa hora pra relatar aqui uma conversa que escutei na fila do supermercado entre duas senhoras. Não que eu estivesse interessado em ficar bisbilhotando o papo delas, mas elas praticamente me puxaram para dentro do assunto. E que assunto!
Lá estavam as duas conversando, ou melhor, alfinetando a coitada da Gracyanne Barbosa — que de coitada só tem a parte de ter se casado com o Feio, quero dizer, o Belo —, que olhava pras duas toda serelepe — com aquela energia toda que esse povo do Carnaval tem —, na capa de uma revista. Uma das senhoras, simplesmente, virou pra mim e perguntou:
— Você acha isso bonito?
E não foi tipo uma pergunta normal. Era uma mistura de acusação, surpresa, incredulidade e revolta, como se ela já soubesse que eu ia responder sim. Mas, sem esperar pela minha resposta, a outra senhora já foi logo dizendo:
— Parece uma cavala, olha essas pernas... Essa barriga não é de mulher, é de homem! Olha esse rosto cheio de botox! Nem sorri ela consegue direito, gente!
Fiquei com dó da Gracyanne. Quase me vi obrigado a ter que defender a pobre, mas o jeito que a mulher falava era tão revoltado e tão engraçado que eu comecei a rir.
Hoje eu parei pra pensar um pouco sobre isso depois que um amigo meu me disse que tinha encontrado uma Panicat pessoalmente e que achou ela ridícula. Só acreditei nele depois de ver a foto e comprovar que é verdade. Não que ela fosse realmente muito feia (era até normalzinha), mas comparando a mulher da foto com aquela que a gente vê balançando sem parar o programa inteiro... Pelo amor de Deus! Chegava a ser decepcionante.
‘Tá, eu não sou uma criança iludida que acha que tudo da Tv é real, mas entre saber e realmente ver aquilo com os próprios olhos é completamente diferente. Imagina se aquela pessoa que tu paga um pau esbarrar contigo na rua e tu, de repente, perceber que era tudo maquiagem ou efeito das câmeras e que ela não é tão maravilhosa assim... Decepção demais, né? E triste também.
Pensar isso me bate uma bad. Fico me imaginando dando de cara com a Megan Fox e vendo meus sonhos indo pelos ares... Se bem que isso nunca vai acontecer. Quais são as chances de eu encontrar a Megan na esquina da minha rua? Zero. Então eu acho que ela vai continuar sendo perfeita pelo resto da minha vida. Pelo menos isso.
Enquanto eu sonho com a Megan Fox, vai curtindo aê a 
nova música tecnobrega (WHAT?) do Strokes, segundo Gabi Amarantos. E se não tiver nada a ver com carnaval, finge que tem!

sábado, 19 de janeiro de 2013

Era uma vez, nunca mais.



Nós estamos aqui tentando adiar o inadiável, balbuciando coisas sem sentido sobre o tempo. Mas o seu café nunca esteve tão frio e a minha coca-cola tão quente. Agora você sorri; mas seu sorriso não chega aos olhos.  Agora eu não te reconheço mais.
Eu juro que tentei dizer “Muito prazer” a sua nova faceta. Mas ela me retribuiu com um olhar desconfiado e mais tapas do que eu posso contar. Porém, continuei sussurrando um não desista, correndo atrás de algo que não existe mais, pedindo mais tempo a um ponteiro invisível. Das duas, uma: Ou meia-noite chegou ou você não é a Cinderela que eu pensei que fosse.
No caso de erro, também há uma terceira possibilidade: Eu também não sou quem eu pensei que era.
Estamos quites então.
Lutamos e lutamos; você, com seu olhar inocente e ao mesmo tempo cortante, eu, com meus milhões de defeitos tentando fazer o que é certo. Ambos perdemos. Tudo o que ficou foi a sensação de vazio. Engraçado porque um dia eu olhei pra você e pensei: “Eu ainda vou casar com ela”. Agora tudo o que resta de nós é só um ponto final.
Porque, de reticências em reticências, toda história tem um fim... Três pontinhos, um dia ou outro, vira ponto final. Nós viramos um ponto final.
Então eu dou início ao nosso desfecho. Você me interrompe, porque acha que é melhor soletrar logo fim. Personagem ruim. Eu aceno.
Num gesto melodramático, você tira seu anel. Uma vez você me disse que por causa dele nós sempre estaríamos juntos, lembra? Acho que não. Agora ele boia na frieza do seu café, como um Iceberg. Pobre Titanic.
Eu dou um sorriso irônico, porque a cena é digna de um filme. Não ganharia nenhum prêmio, acho, mas levaria a plateia aos risos; ou as lágrimas se o público realmente compreendesse a história.
 Você me pergunta o que eu estou achando tão engraçado.
“Nós” é o que eu penso; “Nada” é o que eu digo.
Você balança a cabeça como se desistisse de entender meu humor inconstante. Assim como quem escrevia nosso conto de fadas (maluco, estranho e malfeito) fez conosco.
Então você pega suas coisas e vai embora. E eu sei que logo mais você vai ligar para todas as suas amigas, para contar como eu sou um insensível e como cometeu um erro quando voltou para mim. Elas vão dizer que eu sou um idiota e que você merece coisa melhor. É verdade, sou mesmo um idiota. E, sim, eu também desejo que você seja feliz e encontre um cara que goste dessa nova “você”.
E eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas eu também mereço algo melhor. Eu acho que realmente tive isso um dia, mas, sei lá, no dia seguinte a princesa tinha se transformado numa bruxa. Mas é melhor parar por aqui, porque, na vida real, é você que tem sempre razão. Para você, para os seus “amigos”, e para todo mundo, eu vou ser sempre o vilão.
Eu me levanto e o meu anel faz companhia ao seu. O navio afundou.
Vou embora.
O seu café continua frio e a minha coca-cola quente. Mas um dia as coisas se ajeitam.
Boa sorte. Acho que nós dois vamos precisar.

“É aqui que eu digo fim. Era uma vez, nunca mais.”
— GS.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Música, Oasis e outros caralhos.




Cara, era para eu estar terminando de escrever o próximo capítulo de Juízo de menos, mas a minha inspiração foi parar lá na Argentina — junto com o filha da puta do meu melhor amigo. Mas não tô afim de disso, então vamos mudar para o assunto desse post que é música (mas não vai ter nenhuma música da Argentina, porque eu não quero ouvir falar desse país tão cedo).
Não é segredo pra ninguém (que me conhece) que eu sou fã de Oasis — e, como todo fã alucinado, vou torcer até o meu último suspiro pra que o Noel e o Liam resolvam as tretas deles e os caras voltem com a banda. Meu pai, pessimista como só ele pode ser, acha que é mais fácil os Beatles lançarem um novo CD. Mas ninguém vai matar as minhas esperanças, principalmente depois que o Beady Eye (que é praticamente o Oasis só que sem o Noel Gallagher) tocou Wonderwall no encerramento das Olimpíadas de Londres.




Pode não ter sido uma das melhores interpretações do Liam, mas quem é fã (ou quem pelo menos curtia/curte o som dos caras) deve ter ficado arrepiado ou, pelo menos, meio nostálgico. Pra mim, Oasis um dia volta. Se os Beatles ressuscitassem e lançassem um cd, também não seria nada mal.
Eu sou um cara que, graças a Deus, tive boas influências musicais na família. Minha mãe é fã convicta de Legião Urbana e o meu pai, cara, pode ser considerado o quinto garoto de Liverpool. Sei lá. Não teve como eu correr da música, porque ela veio pra mim de berço, sabe? Acho que a primeira música que eu aprendi a cantar foi dos Beatles — ou a segunda, se Eduardo e Mônica contar na lista.
Porém, nunca quis ser músico. Até tento de vez em quando arranhar alguma coisa no violão, mas sempre soube que dom pra isso eu não tenho — e, para falar a verdade, nem vontade. Nem quando chegou essa fase de todo mundo achar o máximo saber tocar. Meu pai tentou me ensinar e eu até cheguei a fazer algumas aulas, mas até hoje eu só sei umas poucas notas.
Eu sempre fui meio vagabundo então raramente eu achava alguma coisa que prendia a minha atenção a ponto de eu treinar isso todo santo dia. O skate foi uma exceção. Comecei a treinar com uns 7, 8 anos, sei lá. Não parei mais. Não que eu quisesse virar um profissional. É que isso foi um lance que eu curti pra caramba e até hoje ainda é uma das coisas que eu mais gosto de fazer (só que agora, infelizmente, sobra pouco tempo). Então skate e música são as minhas maiores paixões desde pivete.
Aí, eu conheci um cara lá pela segunda série que compartilhava os mesmo gostos que eu. O que é meio incomum, já que criança raramente se liga nessas coisas de música e o número de mães que estão dispostas a levar seus filhos toda semana no hospital (porque a peste vive caindo e quebrando/triturando o braço quando anda de skate) é praticamente zero.
Então eu e esse cara éramos praticamente uma anomalia na escola. E, olhando por esse lado, seria óbvio que a gente acabaria se juntando e virando melhores amigos, certo? Errado.
A gente se odiava.
Sabe aquele lance de guriazinha fresca que fica com raiva porque a amiguinha copiou a roupa dela? Esse lance rola entre os caras também. Só que não tem essa de ficar de fofoquinha e olhando feio, que nem as garotas. A gente saia na porrada mesmo!
Eu devo ter batido o recorde de vezes que fui parar na Diretoria por causa disso. Ninguém entendia nada, porque pra todo mundo eu e ele éramos bons amigos. Eu lembro que a nossa professora quase teve um treco quando viu a gente saindo no tapa em plena sala de aula. Eram bons tempos.
Sem perceber, a gente virou amigo de porrada. Tipo aquela pessoa que tu grita e bate quando está revoltado (mesmo que seja por coisas nada a ver com elas) só pra extravasar, sabe? Era meio que assim. E então a gente foi descobrindo mais uns lances em comum, brigando, trocando uns jogos, brigando, colecionando cards do Yu-gi-oh!, brigando... Quando eu vi, esse cara tinha se tornado meu melhor amigo.
Porque ele pegava minhas coisas emprestadas e nunca devolvia, eu passava mais tempo na casa dele do que na minha, nós nos quebrávamos numa manobra idiota todo dia, íamos pra Diretoria juntos, levávamos bronca juntos, nos ferrávamos juntos, brigávamos sem parar às vezes e, depois do nada, nos falávamos normalmente.
Sei lá, acho que amizades que nascem de brigas são as que mais duram. Pelo menos a nossa foi assim.
E esse post era e é sobre música, cara. Mas eu estou meio perdido sobre o que eu devo falar e você sabe que eu não sou do tipo de fazer uma homenagem e os caralho.
Mas eu queria registrar aqui um pouco da minha amizade com esse cara que curte Blink 182. Que ainda não devolveu minha camiseta do Kanye West, que roubou umas minas de mim, que tem talento pra caralho (mas se finge de tímido), que desenha mais que eu, que eu raramente chamo pelo o nome (porque viado e otário é o que melhor define, deveria constar isso na certidão!), que é o segundo filho que a minha mãe não teve, que merece um soco na cara e que EU VOU SENTIR FALTA PRA CARALHO DESSE FILHO DA PUTA.
Então eu espero que ele se dê muito mal na Argentina, que nenhuma mina de lá ligue pra ele, que essa viagem seja uma merda, pra que ele volte logo pra casa pra eu poder dar um soco na cara dele e zoar porque o cabelo dele é mais tosco que o meu.


“Eu não sou muito bom com despedidas, tu sabe. E eu não levo jeito pra esses dramalhões mexicanos e os caralhos, por isso não fui no aeroporto e nem te liguei. Porque, velho, eu não vou ficar chorando por causa de homem, seu filho da puta. E foi mal por uns lances que eu disse, mas eu não vou pedir desculpa por nada, porque, na real, eu ainda tô muito revoltado. Mas, sei lá, se tu acha que foi o melhor pra ti fazer essa porra de viagem, acho que deve ser mesmo, porque tu (por incrível que pareça) sabe o que faz. Valeu, irmão.”
G.S.